O porquê da convocação de Perillo
Os integrantes da CPMI do Cachoeira votaram pela convocação, por unanimidade, do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que aparece 270 vezes nas conversas telefônicas entre o bicheiro Carlos Cachoeira e integrantes do esquema que deu origem a CPI. Alguns desses integrantes já estão presos. Mas o envolvimento de Perillo com o contraventor vai além.
Perillo teve pelo menos três encontros com o bicheiro, que o governador afirma se tratar apenas de encontros festivos; o ex-vereador Wladimir Garcez contesta a versão de Perillo sobre a venda de uma mansão de luxo por R$ 1,4 milhão, que na verdade teria sido paga por familiares de Carlos Augusto Ramos; um assessor de Carlos Cachoeira teria entregado, no Palácio das Esmeraldas, R$ 500 mil numa caixa de computador destinados ao governador; a chefe de gabinete Eliane Pinheiro se demitiu após reconhecer ter sido avisada sobre uma operação contra jogos ilegais.
Por que Cabral ficou de fora da CPMI
O governador Sergio Cabral (PMDB), ungido pela CPMI do Cachoeira, não foi chamado a depor. Os integrantes da comissão, tangidos pelo acordo entre o PMDB e o PSDB, deixaram de fora o governador do Rio de Janeiro, que tem comprovada ligação com o ex-dono da Delta Construção, Fernando Cavendish, preso na Operação Monte Carlo da Polícia Federal, flagrado em recente viagem à Europa com o empreiteiro, exatamente aquele que tocava as maiores obras executadas nesse momento no Rio. A farsa teve a adesão do PSDB: três dos cinco parlamentares tucanos da CPI votaram contra a convocação de Cabral. Foi assim que o governador peemedebista foi salvo pelos tucanos.
A Delta já teve seus sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados em todo o país e, no caso do governador do Rio de Janeiro, até pelas suas relações tão próximas a Cavendish, é difícil admitir sua não convocação. Passado esse primeiro momento de arroubo pemedebista, que usa o poder de fogo da sua grande bancada para blindar o governador do seu partido, por certo Cabral terá que depor à CPMI. É questão de tempo: até que as entranhas da Delta Construção sejam expostas. Há quem diga que Cachoeira é peixe pequeno cotejado com o esquema da Delta, que seria o grande tubarão branco que leva o governador do Rio de Janeiro a mergulhar em um mar de lama.
Cabral disse não temer que isso aconteça - por não ser citado na investigação da Polícia Federal - nem a quebra de sigilo bancário da Delta.
E por que Agnelo?
Agora, a convocação do governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz para depor na CPMI, é reflexo da quebra do sigilo imposto à empreiteira Delta Construção que atinge em cheio o governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral por tratar-se da empresa com mais contratos com o governo do Rio. Foi uma clara retaliação do PMDB, partido do governador do Rio de Janeiro, ao PT.
Para preservar o governador Sergio Cabral, um grupo de pemedebistas se aliou aos tucanos (que buscavam dividir o foco dos trabalhos da CPI com outro governador) e sacrificou o governador Agnelo, com o pedido de depoimento aprovado por 16 votos a favor e 12 contra.
Ao se crer no que dizem alguns órgãos da imprensa, Agnelo será inquerido pela prorrogação do contrato da Delta para coleta de lixo, antes mesmo de tomar posse como governador. Ora, a Delta foi contratada por governo anterior e a prorrogação desse serviço é fato contumaz no início de qualquer administração para que não haja solução de continuidade na prestação do serviço de limpeza.
Quanto ao esquema de grampos supostamente para bisbilhotar jornalistas e adversários políticos, como acusa o deputado paranaense Fernando Francischini (PSDB), o feitiço pode se voltar para o feiticeiro: é bem possível que o deputado Francischini é que tenha que se explicar, pois é tido como o responsável por gravações de conversas de altos funcionários do GDF, ele que se arvora como futuro candidato ao governo do Distrito Federal e já tratou da transferência do seu titulo eleitoral para o DF. No caso desse deputado-delegado de polícia, é bom lembrar que tem um passado extremamente obscuro em sua atuação no Estado do Espírito Santo, onde teria deixado rastros de sangue.
O governador Agnelo se defendeu. “Respeito a CPI, mas a convocação é injusta, porque o grupo criminoso não conseguiu fazer negócios, não indicou ninguém no Distrito Federal. As gravações da Polícia Federal comprovam que esse grupo tentou me derrubar porque eu era um empecilho”, declarou.